Os financiamentos entraram na vida dos brasileiros para ficar. Eles são muitos procurados por maior parte da população para adquirir bens, principalmente carros e imóveis.
Juntar dinheiro, depositar mensalmente uma quantia em alguma aplicação com o objetivo de comprar um bem é coisa rara de se ver, já que com esse procedimento surge a maior desvantagem se comparado ao financiamento: recebemos o bem apenas depois de ter juntado o dinheiro.
Entretanto, existe algo, um grande detalhe, quase um ponto de vista sobre os financiamentos, que se levarmos em consideração, faria qualquer pessoa pensar diversas vezes antes de fechar o contrato com o banco ou com a financiadora.
Situação típica de financiamento
vamos imaginar que você tenha uma vontade imensa de comprar um carro novo, zero. Está de olho em um modelo já faz um bom tempo. Uma alternativa é financiar. Por isso vamos colocar alguns valores para simular esse financiamento, lembrando que não foram baseados em uma operação real. São apenas para fins de aprendizado, mas o que for ensinado aqui poderá ser aplicado a qualquer valor, taxas, prazo, etc.
Buscamos um carro para financiamento e achamos! O valor total dele no ato da compra é de R$50.000,00.
Nada mal. Considerando taxa de juros, IOF, seguro, etc, chegamos a um Custo Efetivo Total de 2% a.m.
Lembre-se: toda e qualquer instituição financeira deve ser obrigada informar o CET quando há oferta de crédito. Leia mais no artigo sobre CET.
Considerando as partes técnicas de sempre, podemos dizer que esse financiamento possui capitalização mensal, parcelas fixas, sem entrada, dividido em 48 tranquilas prestações e que o pagamento da primeira prestação não seja no ato da compra (ufa), chegamos ao seguinte cenário:
Valor financiado: R$ 50.000,00
CET: 2%
Valor das parcelas: R$ 1630,09
Número de meses: 48
Valor total do financiamento: R$ 78.244,40
Aumento do preço: R$ 28.244,40 ou 56,48%
Chega de termos técnicos. Quer saber como calcular o seu próprio financiamento? O Banco Central possui uma calculadora online. Possui algumas limitações mas atende a maioria das necessidades se o financiamento for parcelas fixas.
O que eu quero que você enxergue é esse aumento do preço. Foi pago 56,48% a mais do seu valor original. Uma poupança rendendo 0,6% ao mês, demoraria 75 meses para chegar a esse crescimento de qualquer capital investido. Claro que, como dito anteriormente, esses números foram escolhidos apenas com propósitos didáticos.
Bastante não é? Talvez seja um preço bom a se pagar para receber o carro no momento da contratação do financiamento.
Afinal, foi pago R$ 28.244,40 de juros e você não teve que esperar 4 anos para andar de carro novo.
Mas aposto que isso você já sabia. Ou ao menos tinha uma ideia. Vamos dar mais um passo:
O bem financiado pode ser seu pior inimigo
Agora vamos mudar um pouco de ponto de vista. Deixaremos de ver os R$ 78.244,40, que foi o total que pagamos pelo carro. Vamos analisar o valor que deu origem a tudo isso: os R$ 50.000,00.
No momento da compra do carro, ele valia os bons R$ 50.000,00. Ou era isso ou era voltar para casa a pé.
Era o preço de mercado. Nesse preço inclui todos os impostos e taxas repassadas para o consumidor final, os lucros de todos integrantes da cadeia, desde a produção até a venda. Mas era o preço.
E deixa eu te perguntar uma coisa: depois que esse carro novinho em folha saiu da concessionária, ele continuou valendo os mesmos R$ 50.000,00? Não.
Na verdade, o primeiro ano de um carro zero, ele deprecia cerca de 20%, ou seja, vale 20% a menos comparado ao valor original. Mas essa depreciação geralmente ocorre a maior parte dela quando o carro sai da concessionária, onde ele passa de carro novo, para semi-novo.
Imagina então seu carro depois de comprado: você pagou R$ 50.000,00, mas agora ele vale apenas R$ 40.000,00 (depreciação de 20%).
Mas e seu financiamento? Ele demora 4 anos para acabar e suas parcelas não mudam. Vamos ver como fica então esse novo cálculo?
Valor original: R$ 50.000,00
Valor considerando a depreciação: R$ 40.000,00
Valor total do financiamento: R$ 78.244,40
Valor das parcelas: R$ 1630,09
Número de meses: 48
Diferença entre o valor financiado e o valor do carro: R$ 38.244,40 (aumento de R$ 10.000,00 comparado com a diferença original).
O carro passou a valer R$ 40.000,00 e mesmo assim no fim do seu financiamento você terá pago R$ 78.244,40, ou seja, 95,6% do valor do carro, apenas em juros.
E ai? Compensa pagar um financiamento de R$ 50.000,00 por um bem que vale R$ 40.000,00?
Já deu para entender que se considerarmos as depreciações até o fim do pagamento do veículo, o cenário piora um pouco, não é mesmo?
Mas calma! Nem tudo é ruim.
Você observou que esse bem citado no exemplo era um carro. Carros desvalorizam com o passar do tempo. Mas nem todos os bens são assim.
O bem financiado pode ser também seu melhor amigo
Considerando o valor do bem a mercado, podemos aplicar essa técnica com bens que passam por apreciação, como os imóveis.
Um imóvel possui vários fatores que podem levá-lo a subir seu valor, deixando muitas vezes, financiamentos em imóveis e terrenos uma excelente forma de investimento.
Para esses financiamentos como investimento possuímos praticamente três cenários:
Cenário 1: O juros pago pelo financiamento fica acima da apreciação do imóvel. Não é esse o caso que buscamos, pois quando quisermos vender o bem, não teremos lucro.
Cenário 2: A apreciação do bem e o juros são praticamente os mesmos. Caso melhor que o anterior, mas mesmo assim não é o ideal, já que estaríamos no zero a zero.
Cenário 3: A apreciação do bem é maior que o juros pago. Nesse caso teríamos lucro na venda, mesmo com um financiamento.
Para que ocorra uma apreciação de um imóvel, vários fatores contam, como desenvolvimento da região, temperatura do mercado imobiliário, infraestrutura, localização, etc
E lembre-se que as taxas de juros também dependem de vários fatores, para determinar se será alta ou baixa, como a taxa Selic, momento da economia, incentivos ou barreiras do governo, inadimplência, entre muitos outros.
Conselho…
Agora que você possui uma nova ferramenta, análise com calma cada financiamento e dívida que você irá aderir.
Lembre-se do valor do bem, se há uma apreciação (preço sobe) ou uma depreciação (preço desce).
Muitas pessoas costumam gastar muito dinheiro em bens que não trarão nenhuma valorização e isso pode ser uma grande complicação para o orçamento familiar.
Afinal, nossa cultura é gastar, gastar e gastar. E não investir.
Então para não pagar tantos juros em um carro,o ideal seria compra a vista e não financiar? tem outra maneira de comprar um carro sem financiar ou se financiar é padrão pagar tantos juros?? desculpa minha ignorânciaI
Olá. Muito obrigado pelo comentário.
Na maioria das vezes, comprar um carro parcelado é sim um sinal de pagar bastante juros. Existem algumas raras exceções: por exemplo, quando a compra é feita diretamente com o dono do carro e ele pode optar por não cobrar tanto juros e mesmo assim parcelar a compra. Mas é bem raro de acontecer. Tudo depende da negociação feita. Deve-se ficar de olho na burocracia que envolve essa transação, como contratos, formas de pagamento, etc.
Entretanto uma excelente alternativa para evitar pagar juros é fazer investimentos mensais em alguma aplicação (LCI, CDB, títulos públicos) e deixar que o dinheiro investido traga mais dinheiro. Assim que vc tiver o dinheiro necessário, compre o carro. Lembre-se que quanto mais dinheiro investido, maior será o retorno. Abuse do juros compostos para aumentar o poder de compra.
Espero ter ajudado. Qualquer dúvida estou à disposição.
Excelente texto Misael, parabéns!
Já tinha desistido de financiar um carro para financiar um apartamento, pois, apesar do prazo (360 meses) e do valor total pago no final do financiamento, acredito que a apreciação do bem será maior do que os juros pagos. Esse texto só reforçou a minha idéia. Pago tudo a vista. Compras pela internet pago no cartão de crédito, porém sempre em 1x, mas confesso que é difícil ajuntar dinheiro para a compra de um carro e principalmente de uma casa.
Mais uma vez, parabéns e obrigado pelo texto!!!
Tiago, é um prazer imenso te ajudar. Obrigado pelo comentário.
Realmente a questão maior de um bem financiado é a taxa de juros VS apreciação ou depreciação do mesmo. Pode-se dizer que quando a valorização é maior que o juros pago, isso se torna um investimento. E realmente, acumular dinheiro para compra de carro ou casa não é uma tarefa fácil. Por isso que quando mais cedo ocorrer o planejamento, melhor. Qualquer dúvida estou à disposição. Grande abraço.
Matéria muito boa, Misael, didática e esclarecedora. Mas uma coisa coisa me incomoda no texto: tratar o imóvel de moradia como “investimento”. Não acho muito saudável comprar o futuro lar pensando em valorização e possível venda. Quer dizer, deve-se considerar a revenda quando compra algo fiado mas não deveria ser o fator determinante. O que vejo muitas vezes é gente assumindo um compromisso financeiro por décadas, cheio de riscos de distrato, e usando “investimento” como desculpa para si mesmo contrair tal financiamento. “AH, mas comprar na planta é bom negócio etc etc etc”… Esse tipo de coisa que leva a auto-sabotagem.
Para carro vale o mesmo, com o agravante de que carro desvaloriza. E aí terminam minhas certezas – contrair financiamento pra comprar algo que desvaloriza certamente não é bom negócio…. mas comprar o mesmo bem (que desvaloriza) a vista não é ainda pior? Quem tem dinheiro pra comprar a vista não faria melhor ao pesar o encargo do financiamento com o custo de oportunidade?
Olá Salomão, obrigado pelo comentário.
Vamos esclarecer algumas coisas então, que talvez o texto falhou em esclarecer.
Realmente não é ideal pensar em imóvel de moradia como forma de investimento. Quem efetuar uma compra pensando na apreciação para alugar ou possível venda, é aconselhável ter um imóvel próprio, usado como moradia. Esse no caso seria o segundo imóvel adquirido. Um imóvel para gerar renda.
Já sobre comprar um carro (bem que desvaloriza) à vista, pode ser um mal negócio? Depende. Olhando somente do ponto de vista financeiro é o melhor negócio, justamente pelo custo de oportunidade.
Vamos supor que a CET de um financiamento seja de 2% a.m. Para o financiamento ser melhor que a compra à vista, é necessário rentabilizar o dinheiro a uma taxa maior que 2% a.m. para não ocorrer perda do poder aquisitivo devido aos juros pagos pelo financiamento.
Espero ter esclarecido suas dúvidas. Qualquer questionamento, sinta-se livre para comentar.
Abraços!!
Essa verdade pode assustar, pode te deixar confusa. Essa verdade pode nos lembrar que ser feliz e muito mais facil do que imaginamos!
Em resumo para mim…são todos agiotas usando a desculpa de vender carros para escalpar o apache…o que me deixa indignada é o perfil brasileiro…que se deixa enganar muitas vezes …e o pior: acha normal ser roubado desta forma…pagando 2 carros por um…queria ver se o brasileiro boicotasse os bancos e não fizesse mais financiamentos para o banco não agiotar…kkkk